terça-feira, 9 de novembro de 2010

Texto amassado.

Hoje é dia 19 do mês frio de janeiro, eu rabisquei em papel que se amassa a mitologia desses seres que não existem para fora do real papel ainda liso, personagens. Atrás de mim tem uma pilha grande de papéis, todos amassados, pequenas bolinhas, grandes bolas de muitos papeis amassados uniformente em conjunto, alguns disformes, outros com potencial de figurarem em catálogo de museu contemporâneo e ainda mais alguns origamicamente abstratos.

Amassar papel é uma arte. Convenhamos. Não é qualquer escritor que bem o sabe. Fácil é escrever bem, texto bonito, expressivo e bem cozido, difícil é atirar com desprezo a literatura porcaria para o rol dos textos para sempre rascunhos. Ainda mais se for com um desprezo sem choro.

As palavras erráticas que saem do meu caos são impressas numa ordem de tal forma tão mal feita que não resta-me dar outro fim seguinte a conclusão do texto do que realizar a materialização física a essa toda malfeição. Conversão à massa, afórmica, assimétrica, de mão imprimindo força de exclusão ao conteúdo ilocucional, comprimindo-o até o mais próximo da não existência, e que se rasge ainda melhor. A progressão entre a palavra, o texto e a bola. Papel amassado quase sempre é bola. Necessário mais imaginação para amassar-se um papel de forma nova do que escrever um Shakespeare.

Últimamente inventei uma nova bola não bola forma de amassar o papel. É o amassado dos mais diversos, descarte de texto com grande pompa e circunstância. Começa-se escrendo um texto dúbel, sem forma, tempo impreciso, um único personagem, sem ação. Onde nada acontece apesar da subsistência ténue de um fio propagando o rolar do texto para lá. Daí faz-se uma dobradura metáfisica no texto. Amassa-se-o transcendentalmente. O texto parecerá novo, próprio a leitura quiça, apesar de ser completamente amassado e relegado a leitura das traças: pelo interior. Será ainda fruto do mesmo descarte que faz uma bola com texto de má qualidade, mas com criatividade.

Eu amassei esse texto!

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