sábado, 8 de maio de 2010

Amor entropia.

Existem certas coisas absurdas que de fato não deveriam existir...

Sou cientista. Físico-teórico na área de gravidade quântica de loop. Nem tente, digite na wikipedia se curioso. Sabemos todos que a teoria das cordas é insignificante em termos de qualidade e arcabouço empírico-teórico quanto a minha área de atuação. Poderia discutir e facilmente te persuadir, mas discordo que seriamos ambos capazes de te fazer entender o obvio.

Escrevo sobre a entropia. Alguns físicos a definem como sendo o grau de incerteza e desordem associados a todos os sistemas. Eu particularmente adoto a definição dela como a quantidade de que uma reação tem de ser reversível ou não. Basicamente, quando um copo de água fria encosta num copo de água quente existe a certeza de que a água quente ceda energia para o copo de água fria esquentando-o. No fim, os copos terão a mesma temperatura.

De acordo com a lei da entropia não existe possibilidade da água fria ceder energia para a quente resultando em uma água mais fria e outra mais quente. O processo de troca de energia entre os copos é irreversível, sempre a energia fluirá do copo quente para o frio. Zero chance de acontecer o contrário. Zero mesmo, não esse quase zero fajuto da teoria bosônica das cordas. A teoria das cordas é uma coisa absurda e não deveria existir.

Em resumo, apertar a pasta de dentes é um processo irreversível, nada de chances de a pasta voltar sozinha e magicamente para o tubo.

Voltemos, para o texto a seguir é preciso saber o que é entropia, portanto a explicação passada.

O universo é o resultado de um loop de emaranhamento quântico de 11 p-branas dimensionais sem começo nem fim, afinal o tempo é uma dessas p-branas. Nem me pergunte o significado da palavra brana conter um p antes, nem muito menos o que seja uma brana, você não quererá saber. Existem intrincadas leis para o funcionamento dele, o universo, e em especial existe uma constante de estrutura fina que regula a intensidade da força eletromagnética em relação com as forças nucleares forte e fraca. Aproximadamente o inverso de 137. Se esse número fosse qualquer coisa pequena de diferente, qualquer coisa, de qualquer coisa, como conhecemos, não seria possível. Qual a probabilidade de uma dessas branas não ter colapsado na origem do universo?, praticamente acabando com tudo, qual a probabilidade da constante de estrutura fina ser o inverso de 103 ou qualquer outro número, praticamente alterando tudo. O Universo é uma coisa absurda e não deveria existir.

A Terra é uma simples bola de metal vagando por aí num ermo qualquer de um espaço frio e mais vazio que cheio. Acontece que a Terra ao vagar encontrou algo parecido com um Sol no caminho e começou a orbitar em derredor. Probabilidades do encontro astronômico? Certamente, o zero quase zero, não zero, da teoria das cordas. Acaso as velocidades de aproximação, ou o angulo de deflexação gravitacional fossem diferentes a Terra não orbitaria em redor de qualquer coisa parecida com um Sol. O planeta Terra é uma coisa absurda, o sistema Solar é uma coisa absurda e eles não deveriam existir.

Um belo dia a bilhões de anos atrás a vida na Terra surgiu do nada grão de rocha que somente havia. Qual a probabilidade de assim ocorrer? A Vida é uma coisa absurda e não deveria existir. Que me diria ainda que a vida evoluiu em diferentes formas ocasionalmente gerando seres como os humanos, capazes de amar, guerrear, se misturar, se perder e se achar. Antagônicos e ambivalêntes em tudo. Seres Humanos são absurdos e não deveriam existir.

Humanos, por sua vez, aglutinaram-se em grandes centros como qualquer coisa como cidades e passaram a morar juntos. As cidades cresceram e apartir dai, ao invés de morarem juntos, todos os seres humanos começaram a morar separados. Estatisticamente falando, na cidade-bagunça em que moram milhões, qual não é a probabilidade de dois seres em específico se encontrarem. Se todas as possibilidades: de ter dobrado uma rua antes, de ter ido de ônibus, de sua mãe ter morrido um dia antes, de você ter ganho na mega-sena, de desviar o olhar por causa de uma mosca... não, você estava no local certo, circunstancialmente ali para aquilo, encontrá-la. Dois seres mecanicamente determinados a se encontrarem... Dois seres determinados a se encontrarem são absurdos e não deveriam existir.

Do encontro causal-determinístico desses dois andantes, as palavras certas, os olhares certos, a pulsação conjunta, e se o silêncio errado?, se os olhares tortos?, se a pulsação fraca? certamente eles não teriam se apaixonado. Dois seres andantes se apaixonando é tão improvavél pois qualquer motivo é motivo para rejeição. São obviamente absurdos e não deveriam existir.

A paixão pode ser de temporal de verão, chegando negra e pesada, desabamento rápido e depois que suma. Mas não!, ter a certeza que ambos são a plena definição de entropia. Que cada um depois do encontro será como o tubo de pasta de dentes apertado. E quem vai fazer a pasta entrar de volta no tubo? Entropia, pasta fora do tubo, cada um marcou o outro para sempre. Caros senhores nesse mar de absurdos, as pessoas apaixonadas entropicamente são absurdas e não deveriam realmente existir.

Mas existem.

(Dedicado a um casal de amigos, namorados, que são especias por serem também uns para o outro.)

Literatura de Picuinhas.

Homenagem a página em branco:









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A página em branco me traz agônia, realmente. Não vejo uma sem me alterar. Pórtico para o imprescutado, ponto avante para o desconhecido, chance para o imponderável. E se por acaso me salta uma dessas coisas sujas que vivem dentro de mim? Como vou fazer, e as outras pessoas, que vão falar? Hoje me disseram que eu compro livros como quem compra bibêlos. Compro por que faço coleção?, meros objetos decorativos?. Engraçado que eu ganhei um livro-bibelô que amei, histôria de foro intímo, que você, quem quer que seja, fique de fora.

Compro livros por que eles não tem páginas em branco, se tivessem por que os compraria? E tão certo, cada livro é fixo na sua possibilidade, cada livro traz sua ordem e quem saiba essa ordem não transborde para a minha bagunça.

Com certa sagacidade me perguntarão os quatro leitores que tenho... se bem que eram cinco. Perdi um. Nunca mais tive notícias dele. Não entendo, não deixei páginas em branco! Voltando, perguntarão-me: caro Autor se não suportas as faltas de uma página sem tudo, advertência: sem nada é com tudo, então é sem tudo mesmo, por que largou uma no começo deste mesmo texto? Mas horas, quê idiotas serão estes. Está escrito, uma homenagem. Afinal, posso homenagear o que odeio, certo, ou não?

E para preencher mais uma página em branco que não suporto, este texto.